terça-feira, 29 de março de 2011

Nostalgia

Nostalgia
Hoje eu despertei, após um sonho, ainda pela madrugada (o céu estava vermelho acredite) com uma sensação estranha, um misto de felicidade, coisas boas e sentimento de perda. Indagador que sou, preferencialmente a coisas relacionadas a humor e estado de espírito, ainda na cama pôs-me a analisar o motivo de tão confuso sentimento.
Eu estava sonhando viver um momento de minha vida que há tempos deixou ser, mas a intensidade de sonhar é tão forte que a utopia logo se confunde com a realidade por mais absurda que seja. O sonho era confuso eram misturados fatos com impossibilidades e pessoas que já partiram, mas foi o suficiente para deixar as lembranças daquela época tão frescas como se eu as tivesse vivendo atualmente. Perdi imediatamente o sono.
Deveras. As lembranças quando assaltam sua mente são capazes de te lançar em uma espécie de limbo, um êxtase, surge recordações de pessoas que hoje estão distantes, músicas que já não tocam mais com tanta freqüência, e o pior, quanto mais bonita, divertida e especial é a recordação, mais forte se torna o sentimento de perda, pois você claramente sabe que aquele tempo jamais retornará.
Mas se são lembranças boas, porque esse sentimento horrível de perda? Eis a questão que surgiu na minha mente, e novamente, eu o indagador fui à procura da resposta.
Percebi que nem todas as lembranças eram fatos relevantes, desta forma tornou-se relativamente fácil compreender que o que causava todo aquele sentimento forte e confuso era o desejo de revivê-lo. A felicidade era gerada pelos momentos importantes vividos, a tristeza por sua vez vinha pela compreensão de que tudo aquilo não tornará mais a existir. Daí implacavelmente surge à vontade de trazer a existência tudo aquilo de novo, por um instante esquecemos (ou não sabemos) que o que vivemos hoje certamente causará o mesmo efeito de nostalgia amanhã. Nada importa, parece que a dor somente passará se de alguma forma pudermos trazer estas lembranças de volta a realidade.
É quando por fim traçamos um paralelo com o tempo jazido em nossas lembranças e a intrépida realidade. Tratamos imediatamente de analisar: Como estão as pessoas daquela época nos dias de hoje? E os lugares freqüentados? E as músicas, as gírias as brincadeiras... Passou. As pessoas mudaram, as músicas saíram das paradas de sucessos, a gírias se tornaram antiquadas e a mais pura verdade é que tudo isso já não existe mais.
Até mesmo as pessoas, em relação a elas você gostaria francamente (e desnecessariamente) que tudo voltasse a ser como antes. Porém, a realidade é que, até mesmo estas pessoas que habitam suas lembranças não existem mais. Pode ainda ser uma amiga próxima, ou aquele amigo que se casou e está distante, não importa. Da forma como estão nas suas lembranças, eles não são mais e não há nada que você possa fazer.
Daí surge à explicação do porque desse sentimento tão misto e confuso, onde você não sabe se está feliz ou triste, apenas sabe que está emotivo.
Assim tive que concluir toda a minha análise com uma auto-recomendação totalmente respaldada pela lógica, e concluí que isso é um ciclo vicioso e episódios que vivo hoje, sejam eles bons ou ruins, certamente me lançaram no futuro em um profundo sentimento de nostalgia, e quando no futuro eu novamente acordar pela madrugada depois de um sonho confuso vou descobrir que até mesmo eu já não sou mais a mesma pessoa.  

Felipe de Paula Martins. 29/03/2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

14 Dias

14 DIAS
Hoje o dia amanheceu cinza, a fina chuva molestava o meu ânimo dilacerado, já se completava duas semanas de tortura relacionada à uma dúvida que vez por outra apresentava-se como uma certeza heróica pronta a justificar o meu indefeso e frágil sentimento indeciso, se eu pudesse o deixava no meu colchão junto com a minha indisposição de olhar mais um dia na cara da vida e contentar-me por saber pouco de sua expressão colérica e iracunda, na verdade o que eu queria era expulsar toda essa fragilidade do meu aquecido leito e do meu riquíssimo mundo abstrato e lá ficar, vegetar e somente cogitar coisas utópicas criadas por mim do jeito que me agrada com o enredo escrito pelos meus neurônios na folha da minha vida, porém horrível coisa é, ser anfitrião de uma realidade irreversível que teima em visitar-me intercaladamente, me fez olhar pela janela e saber que não há escolha.
Eu pensava em você obviamente, com uma gigantesca cautela não queria mais te amar, eu tenho uma profunda aversão da falta de controle sentimental e simplesmente odeio o acontecer da existência contra a minha vontade, Por que a dissertação da vida não é do jeito por mim quisto? Sinto a vida escorre-me entre os dedos, os enjôos seguidos de vômitos esta manhã não foram pouco irritantes, não quero morrer aos poucos prefiro as coisas mais expressivas, a alma constantemente suplicava a Deus forças, porque havia decidido não amar-te mais, “falta um dia” concientizava-me “apenas um dia” por que simplesmente eu não poderia ficar no meu leito, aquecido pelo calor do meu corpo durante a noite e jazer lá eternamente? Porem o implacável relógio zombava de mim e da minha cogitação de um possível ócio terapêutico espetando a minha consciência de que o labor cotidiano estava a minha espera. Se eu fosse Judeu ortodoxo talvez fosse possível em observância ao sabath, por que o Senhor descansou no sétimo dia.
Porém eu já estava no décimo - quarto e não havia descansado nem um segundo da fatigante e exaustiva construção do que seria a grande vitória ou a estúpida idiotice da minha vida, tudo isso me encaminhava a um suave e doce desespero que por uma interna e ousada rebelião decretei: “Não irei trabalhar!” Fui Trabalhar.
Parecia que eu carregava uma galáxia como jugo e que a toda hora irritantes supernovas explodiam nas minhas costas, tentei mergulhar nas páginas de um livro na condução, mas, contudo me fugiu toda a concentração, eu estava completamente distraído para ler, ocupado em  me convencer de que a melhor coisa era romper o nosso fabuloso namoro. Faltavam 5 para as 9, eu ainda estava tentando programar o meu dia, não sei o que era mais enjoativo; meu estômago vazio e sem fome ou saber que mesmo com uma guerra universal interna, teria de ficar próximo ao meu insuportável patrão por 4 longas e eternas horas, o mais sufocante era respirar a inconstância das minhas decisões, um pecado imperdoável, uma afronta, um ultraje ao meu orgulho, uma ameaça ao meu ego, “não importa a dor da separação, isso tem de ser feito” ressoava de  forma monárquica dentro de mim “você é um homem ou um rato?” E assim novamente encontrava os aliviantes mil motivos para não mais continuar o mais perfeito e defeituoso relacionamento.
Passou do horário de fechar a loja, após 35 minutos decidir vir embora, meu patrão engoliu um soluço enquanto atendia um insuportável cliente, gaguejou um sim, ocultou uma ofensa na mente, não gostou. Vim-me embora. “Que se dane! Vou terminar meu namoro e vou dar um jeito de sair daqui com algum dinheiro, e devorar os livros que possuo e me devotar serenamente aos estudos!”
Minha vida toda é um plano engenhosamente arquitetado por Deus eu acredito, mas não suporto mudanças “por que as coisas não são do jeito que eu quero?” Mas eu encontro nas novidades dos livros um refúgio dessa impiedosa dor, é como se fosse uma droga que me tira da realidade e infalivelmente me lança nos sonhos inverossímil e surreal.
O relógio denunciava cerca de 10 para às 15h quando cheguei ao centro de Queimados e eu vi aquele trem chegando como se comigo tivesse marcado um encontro, quis ir embora, nunca havia encontrado você assim, mas parece que um anjo virou novamente minha atenção para aquele opaca estação de trem, naqueles eternos minutos pude lembrar do passado de contos de fada e enfrentar o presente como uma tragédia de Shakespeare, quase não percebi o frio alucinante na minha espinha, por admirar o inaudito ocorrido em 2 anos de namoro, apenas coisas semelhantes ocorreram, depois de formar conselho com os membros do meu intelecto decidi ir até você, subi a escadaria como um infrator da lei fugindo de alguma autoridade policial, quando me aproximei, percebi o quanto estava magra e pálida à dias, 14 para ser mais exato, que você não se alimentava adequadamente, meu maior medo se resumiu no que eu já temia, eu ainda te amava, não havia fugido o sentimento puro e nem o desejo nunca saciado, mas eu precisava ser firme, nossas palavras eram secas e recheadas de questionamento e sofrimento, não queríamos romper, definitivamente não,  mas não havia escolha já era o 14° dia.
Os poucos metros até sua casa parecia uma imensa jornada, uma fantástica odisséia macabra, uma verdadeira via crucís e eu o imaculado cordeiro sem culpa pronto para ser sacrificado pelas suas doces e suaves mãos de carrasco, seus olhos lacrimejantes era uma tortura, algo totalmente vertiginoso.
Ao adentrar ao seu lar, lembrei-me fortuitamente de 14 dias atrás, a sensação creio não ter sido diferente a de Einstein com a notícia dos 200.00 mortos em Hiroshima derivada de uma penosa equação, na minha equação mental o resultado já quase exato, pensava; o resultado poderia ser diferente, sim poderia.
No fundo eu queria ter agido como Galileu diante de Urbano XIII e me robusteceria de fraqueza, uma fraqueza excelente e cairia de joelhos implorando-lhe um fim à esse maldito sofrimento, logo em seguida com um forte ímpeto lhe abordaria violentamente e saciaria a minha sede de te beijar loucamente, sem ego, sem orgulho, mas... Já era tarde.
O último abraço foi uma espécie de ritual cabalístico, não houve beijo como na última vez em que iríamos romper nosso desventuroso amor, eu queria ocultamente voltar atrás de tudo, você estava decidida, não havia maneira de eu não corroborar com você e você chorou e disse que ainda me amava, eu sabia que aquilo parecia um suicídio, mas o rompimento era além de cruel, imprescindível.
Seu pai não se conformou, para o meu espanto, não quis dar por morto o que nós sepultamos um irrelevante amor? Certamente bem mais profundo do que os conceitos mesquinhos de sentimentos que me foram apresentados
Nosso amor era bem mais forte do que você e eu juntos, quando ao fim de tudo eu vim-me embora, senti um alívio intrépido e extasiante, em meus olhos enxutos as lágrimas pareciam ter-se estagnado em minha alma totalmente congruente com aquele céu prata-fosco, opaco e sem vida e aquela enjoativa chuva fina que me transportava a um cenário medieval, a rua deserta (Ou eu não vi mais ninguém) parecia que quase por pena abria passagem para o meu lar, e no meu complexo mundo abstrato eu somente implorava “Eu quero ir para a minha casa.”
Foram 14 dias com certeza da dúvida e duvidando a certeza, o silêncio entre nós nesse espaço de tempo era ensurdecedor, resta em mim agora uma vontade extrema de me desenvolver em tudo.
É incalculável o conhecimento e a experiência obtida nisto tudo, já são 01h02min de domingo, era pra ser hoje o que foi ontem, estou a mercê da vontade erudita do todo-poderoso, tomara que minhas imperfeições volíqueas não abordem negativamente este conceito.

O sofrimento de hoje é facilmente esquecido com o sucesso de amanhã.

Escrito em 15/03/08

Felipe de Paula Martins