segunda-feira, 20 de julho de 2015

A GRANDE REALIDADE


O que você considera ser realidade? Eis aí um tipo de pergunta que, aparentemente pode ser rapidamente respondida. Alguns diriam que realidade é o que se pode ver. Já outros gostam de dizer que a realidade é aquilo que é palpável. É realmente difícil de discordar, mas deve ser discordado.

Na escola, nos primeiros anos letivos, aprendemos a distinguir o concreto do abstrato. Um tijolo, por exemplo, trata-se ser um objeto, portanto é concreto, e assim o julgamos como algo real. Mas, a saudade que sinto da infância é um sentimento, portanto, é abstrato. Seria a saudade algo real? Obviamente que sim, tanto quanto o tijolo. Mas existe uma brusca diferença entre, definir o que é real e definir o que é realidade. “A realidade é que você não me ama!” Exclama uma triste jovem para o seu namorado, definindo enfaticamente o que seria a realidade. “Nos filmes, há sempre finais felizes, porém, na realidade é bem diferente.” Afirma o pai ao seu filho, aplicando-lhe uma grande lição de vida. Aparentemente, todos nós sabemos o que é a realidade. Será que sabemos mesmo?

De uma forma mais sofisticada, se, a realidade é considerada ser o que se pode ver ou o que é palpável, pode-se dizer, de forma mais abrangente que, a realidade é aquilo que percebemos por meio dos nossos cinco sentidos. De fato, é esta a realidade que percebemos. Tudo que conhecemos da vida, só conhecemos por meio dos nossos sentidos. Gostamos do sabor da manga por meio do paladar. Daquela música eletrônica por meio da audição. Tudo o que conhecemos da vida é filtrado pelos sentidos, porém esta é a realidade que percebemos e não a realidade em sua essência.

Nossos sentidos são imperfeitos, logo, a leitura que fazemos da realidade, por meio dos sentidos é imperfeita. Temos somente uma compreensão limitada da realidade. Nossa visão, mesmo sendo o nosso principal sentido, nem de longe faz um sensoriamento honesto. Há muito mais espectros de radiações que estão além das cores “visíveis” pelos olhos. Nossa visão não é sensível, por exemplo, ao infravermelho, porém ele está lá, quando você aperta o botão do controle remoto. Ele é real, porém não o sentimos. Já a cobra, alguns peixes e alguns mosquitos são sensíveis ao infravermelho. Quanto ao olfato dispensam-se comentários. Comparado ao do cão, nosso olfato não é nada. O cão possui um olfato tão apurado que, para refazer um trajeto de volta ao lar, usa o olfato para “lembrar-se” do caminho de volta. E isso vale para todos os demais sentidos com os quais entendemos o mundo e a realidade. Mas não para por aí.

Não obstante, além de nossos sentidos não serem os melhores dentro do reino animal, se meditar bem, nenhum animal neste planeta, por mais desenvolvido que seja seus sentidos, poderá fazer uma leitura fiel da realidade. Quando você interage com algo pertencente à “realidade”, como por exemplo, ao tocar em um cubo de gelo, você sentirá a superfície escorregadia e úmida do gelo, a baixa temperatura... Mas todas estas sensações são na verdade, sinais elétricos que o sentido do tato emite para o seu cérebro. Estes sinais são uma interpretação subjetiva da realidade, não é a realidade em si. Todos os sentidos emitem sinais elétricos para a mente, e a mente interpreta a realidade. Tudo o que você conhece como real e realidade é uma projeção da sua própria mente, interpretando de forma limitada a verdadeira realidade. Nem mesmo interagimos, de fato com os objetos, segundo as leis físicas, nunca encostamos realmente em outra matéria, pois, em essência, os átomos que constituem as matérias nunca se encostam de verdade.

Alguém poderia dizer: “Eu sou a realidade”. Será? Pense bem: Você é um indivíduo em meio à 7 bilhões de pessoas que vivem neste planeta. Nosso planeta é apenas um dentre milhares e milhares de planetas em nossa galáxia Via Láctea. A Via Láctea é apenas uma galáxia dentre bilhões de galáxias no universo. E por fim, nosso universo pode ser apenas um entre outros bilhões de universos. Em escala cósmica nós nem sequer existimos.

Somos seres que percebemos a realidade em apenas três dimensões, sendo que a quarta, isto é, espaço-tempo, podemos percebê-la, mas estamos sujeitos às limitações desta quarta dimensão. Vale ressaltar esta limitação, pois, vemos o tempo passar linearmente, mas o tempo é relativo e o passado e presente não são absolutos. Se algum ser dominasse esta quarta dimensão, poderia se deslocar instantaneamente para qualquer ponto do universo conhecido e, o passado e futuro seriam algo como subir e descer uma ladeira. São coisas difíceis de compreender, pois, o que julgamos ser realidade não dá margem para estas “loucas” possibilidades. Ao olhar para o céu noturno e limpo, muitas das lindas estrelas que observares poderão nem mesmo existir mais, pois você certamente estará olhando uma imagem de um remoto passado, de até milhares de anos atrás, mesmo que você à julgue como um item da realidade, pois o que se vê é a luz que foi emitida por aquele corpo, que atravessa o vasto espaço para chegar até a sua retina. E isso leva tempo.


A realidade é uma projeção interpretativa da sua mente, e para nós, todo o universo é mental e talvez nunca saibamos o que é de fato a realidade. Mas uma coisa é certa, se o que julgamos ser realidade não o é de fato, logo, a realidade é algo ainda não atingido, qualificado então como transcendental. O que julgamos ser realidade, mesmo não sendo a verdadeira realidade, é, no entanto a nossa realidade. E é até bom que esta não seja a absoluta. Para vós, tal como eu, curiosos, é preciso dizer algo: temos um mistério à descobrir. Precisamos “tirar as escamas dos olhos”. Talvez a verdadeira realidade seja o que os antigos denominavam como “espiritual”. E acessar esta verdadeira realidade, pode ser o verdadeiro significado da vida.