terça-feira, 8 de dezembro de 2015

MENINXS E MININXS. A LINGUAGEM NEUTRA DE GÊNERO


Tem sido bastante comum nas redes sociais a utilização do X no lugar dos artigos definidos como uma maneira de passar uma mensagem velada. Esta mensagem diz que não existe determinação de gêneros, isto é, não é correto chamar um indivíduo de menino, pois não sabemos se ele quer ser menina, então, chamaremos de meninx, para satisfazer qualquer orientação sexual.

Primeiramente, tenhamos em mente o seguinte fato; a orientação sexual não é uma escolha. Não é algo como um clube de futebol, que logo nos primeiros anos da infância escolhemos, e vestimos a camisa. Vai muito além disto. Trata-se de determinações biológicas, e a sociedade encontra não pouca confusão neste assunto.

Um indivíduo hétero, por exemplo, um rapaz, ao andar pela rua, avista uma bela jovem. Ela é linda aos seus olhos, e ele fica encantado por seu corpo e encontra-se atraído. Esta atração não é decidida, não é uma escolha, não temos um botão liga-desliga para decidirmos quando ficaremos atraídos, e adivinhem só, isto também vale para as mulheres. Quando se sentem atraídas por um homem também não o fazem por escolha, apenas respondem aos seus instintos. Este fato não é restrito apenas aos héteros, homossexuais também respondem aos seus instintos, não há nenhuma escolha nisto. Esta compreensão já serve para acabar com a maior parte do pensamento preconceituoso, pois, o que vagueia pela mente de muitas pessoas é que, uma pessoa nasce hétero, e então, em sua adolescência, só para “implicar” ou por pura “sem-vergonhice”, estas pessoas passam a fingir estar atraída por pessoas do mesmo sexo. Há casos mais bizarros, como de alguns religiosos radicais, que tem a pachorra de dizer que tudo é fruto de “atividades demoníacas”.

O homossexual o é, não por escolha, nem por querer ser polêmico na sociedade, pois não faz sentindo querer escolher fazer parte de um grupo que é ridicularizado, humilhado e injustiçado todos os dias em todo o mundo. O homossexual, o é por determinação biológica, e isto não é uma mera opinião, é um fato. Assim como héteros, que não decidem por si quando estão atraídos pelo sexo oposto, quem é homossexual não decide quando e por quem ficar atraído, pois como já foi dito, é uma determinação biológica. A sociedade precisa compreender que a orientação sexual não é um padrão de comportamento, e sim um padrão de desejo.

Compreendo que a linguagem neutra de gênero busca eliminar o fenômeno trágico da homofobia, porém, isto é feito de forma errada, pois expressa o medo de alguns em ser considerados “anomalia da natureza”, e passa a falsa idéia de que homossexuais, o são por escolhas.

A compreensão da determinação genética é o caminho mais seguro, pois desconstrói o discurso homofóbico de setores conservadores da sociedade por estarmos tratando de algo natural. Desta forma, a utilização da linguagem neutra, que, a meu ver, cria mais confusão ao anular os artigos definidos da língua portuguesa, do que defende a causa dos homossexuais. Além de desinformar as pessoas, é desnecessária. Fica claro que se houvesse mais empatia pelas pessoas a homofobia seria inexistente. DIGA NÃO À HOMOFOBIA.

Seguem os links para embasar a afirmação da determinação homossexual:

Publicado no The Guardian Traduzido por Tiago Silva e José Geraldo Gouvêa no blog Universo Racionalista. Publicação do The Guardian



Veja também:


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

ZEUS E HERMES - O APERFEIÇOAMENTO DA MENTE HUMANA


No mundo em que vivemos podemos sentir uma grande exigência de nossas capacidades. Podemos ainda dizer que, de certa forma, a maior exigência cai sobre os nossos esforços mentais. Obviamente, quem melhor satisfazer as exigências do mundo contemporâneo terá mais chances de levar uma vida plena. Se a grande gama de exigência recai sobre os esforços mentais, isto é, os estudos, a capacidade de análise, o poder de tomar decisões certas, a inteligência interpessoal e intrapessoal tão necessária nas relações e etc. Eis a pergunta. Conhecemos o funcionamento de nossas mentes? Vamos descobrir dois tipos de funcionalidades do cérebro na tentativa de expandir o conhecimento sobre esta ferramenta que nos é extremamente vital.

É claramente fácil de observar a diferença entre a inteligência de um hábil matemático para a de um talentoso escultor. São tipos diferentes de inteligência, mui dificilmente fará o matemático com a destreza que faz o escultor. E vice e versa. Isto ocorre devido ao fato de usarem, com mais aplicabilidade e intensidade, lados diferentes do cérebro. Poucos sabem, mas explicando de uma forma grosseira, há o hemisfério cerebral voltado para o raciocínio lógico (exemplo do matemático) e o outro voltado para a criatividade (exemplo do escultor). Estes exemplos são hiperbólicos e não há um dualismo tão exato nas mentes das pessoas, embora você use ambos os hemisférios, um será dominante em sua maneira de enxergar o mundo. Este já era um fato conhecido dos antigos e isso foi incorporado e aplicado nas religiões e mitos da antiguidade.

Na astrologia, por exemplo, estes funcionamentos mentais estão representados nos planetas Mercúrio que é regido pelos signos de Gêmeos e Virgem, e por Júpiter que é regido pelos signos de Sagitário e Peixes. Mercúrio simboliza o raciocínio lógico e Júpiter simboliza o raciocínio criativo. As características astrais destes signos é expressa de forma objetiva nesta análise, a medida que Gêmeos e Virgem, são analíticos, críticos e pensam de forma “setorizada”, por sua vez, Sagitário e Peixes são expansivos, criativos e pensam de forma alegórica. Note bem, Mercúrio é o nome romano equivalente ao deus greco-mitológico Hermes e Júpiter é, por sua vez, a tradução romana de Zeus. No livro bíblico dos Atos dos Apóstolos (Atos capítulo 14, versículo 12) há uma passagem curiosa, após um discurso em Antioquia, seguido de um milagre, Paulo e Barnabé são chamados de Mercúrio (Hermes) e Júpiter (Zeus) respectivamente. Chamaram Paulo de Hermes pelo fato de que ele estava falando e mostrando grande destreza intelectual com informações. Já Barnabé, que mantivera-se calado, foi chamado Zeus, como se fosse ele o arquiteto imaginativo e criativo de toda aquela proeza presenciada.

Algumas pessoas são melhores em matérias exatas ou linguísticas (hemisfério cerebral esquerdo) como; matemática, gramática, física, química, biologia e etc. Outras pessoas são inclinadas a disciplinas de humanas (hemisférios cerebral direito) como; história, filosofia, geografia, antropologia, psicologia e etc. São funcionamentos mentais diferentes, porém, ambos importantes em nossos dias.

E você? Qual é a sua inclinação mental? É mais lógico e dedutivo, ou criativo e imaginativo? Ao observar a imagem da bailarina abaixo você saberá que hemisfério cerebral você usa com mais freqüência. Se você observar a bailarina girando para a direita, significa que é este hemisfério que você mais utiliza, se visualizar a bailarina girando para a esquerda significa que o hemisfério esquerdo prevalece. Observe:





Alguns agraciados pela natureza vão conseguir observar o movimento para ambos os lados, é claro que com o predomínio de um dos lados. A boa notícia é que você pode desenvolver o hemisfério menos usado pela sua energia mental pela prática de exercícios. Se o seu hemisfério predominante é o direito, isto significa que você é criativo, emotivo, é propenso à genialidade do tipo que inventa coisas revolucionárias, entende simbolismos e expressões com facilidades. Pode tornar-se um inventor, artista, músico, poeta, escritor. Se o seu hemisfério predominante é o esquerdo você trabalha muito bem com informações, podendo tornar-se um engenheiro, físico, matemático, enxadrista e etc. Pratique os elementos do hemisfério que não é o seu dominante e tenha uma mente singular. Se tiver dúvidas do que a mente que explora ambos hemisférios pode fazer, segue então os seguintes exemplos.

Albert Einstein – Seu hemisfério dominante era o esquerdo, porém a prática de música, e literatura que estimulavam seu poder criativo, culminou na possibilidade de criação da Teoria da Relatividade, conhecida pela famosa expressão E=M.C². Para entender a teoria nas salas de aula é necessário um bom desenvolvimento do hemisfério esquerdo, mas para criá-la, Einstein contou com o aperfeiçoamento e criatividade de seu hemisfério direito.

Leonardo Da Vinci – Tido por muitos como o homem mais misterioso do mundo, seu hemisfério dominante era o direito, sendo um perito em artes, poesias e música. Porém, sua curiosidade desmedida o fez criar e desenvolver obras no ramo da engenharia, física, geometria e matemática. O sujeito chegou ao ponto de ser capaz de escrever com as duas mãos, escrever ao contrário, criar o protótipo para o helicóptero, a primeira câmera fotográfica etc.

Curiosamente estes são considerados por muitos os maiores gênios da humanidade. Ta esperando o que? Vá desenvolver a sua mente!

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O LADO OBSCURO E DESCONHECIDO DA BÍBLIA



A Bíblia é a regra de fé para milhões de pessoas no mundo inteiro. Mesmo aqueles que não são cristãos praticantes, encontram na Bíblia um contato espiritual, como se, por exemplo, o simples fato de ter a Bíblia em casa, sobre a estante da sala, aberta no livro dos Salmos já é o suficiente para espantar o mal. Mas a verdade é que cristãos praticantes ou não, em sua grande maioria, não fazem uma leitura sincera da Bíblia, nem os líderes religiosos (pastores, padres etc.) explicam a Bíblia em sua íntegra, antes preferem escolher as passagens mais bonitas em detrimento daquelas mais tenebrosas. Não se preocupam em saber como foi escrito, qual o critério de escolha para os livros do Canon, mas se prontificam a agir radicalmente por este livro aparentemente inescrutável. Então veremos adiante alguns fatos que estão na Bíblia e a maioria desconhece.

1. DEUS SE ARREPENDE. (Gêneses, capítulo 6, versículo 6)

Deus é apresentado na Bíblia como todo poderoso, um ser infalível. Porém, é complicado conceber a ideia de um ser infalível que cai no arrependimento como na passagem do dilúvio quando Deus se arrepende de ter criado o ser humano (Gêneses, capítulo 6 versículo 6). O arrependimento é característica de quem fez uma “burrada”, isto é incongruente com um ser que pode todas as coisas. E é uma contradição com a passagem de Nm 23, 19 quando é dito que Deus não se arrepende.

2. DEUS TIROU O LIVRE ARBÍTRIO DE FARAÓ. (Êxodo capítulo 14, versículo 4)

Toda a doutrina cristã nos dá a entender que todas as pessoas são iguais para Deus, e que todos, igualmente podem alcançar a salvação. Porém, o Faraó rival de Moisés não teve esta sorte. Ramesés, o faraó em questão segunda a teologia bíblica, chegou ao ponto de reconhecer o poder de Deus (Êxodo 12 versículo 32), porém Deus para ser glorificado, invadiu a mente de faraó e endureceu o seu coração para que ele fizesse mal aos israelitas, e assim, o próprio Deus o matasse no mar para ser glorificado, mesmo ele sendo todo poderoso. A verdade é que ninguém gostaria de estar na pele de faraó, que mesmo reconhecendo o poder de Deus, foi negado, usado e descartado.

3. DEFICIENTES FÍSICOS REJEITADOS POR DEUS PARA O SACERDÓCIO. (Levítico capítulo 21, versículos 17 ao 21)

Nesta passagem vemos a proibição de deficientes físicos para exercer o sacerdócio. É claro que Deus sendo todo poderoso, poderia apenas com uma palavra, fazer com que os deficientes ficassem normais, mas, preferiu fazer esta distinção. Como se sentiram estes deficientes físicos?

4. DEUS ACEITA SACRIFÍCIO HUMANO. (Números capítulo 31, versículo 40)

Logo após os israelitas derrotarem os midianitas, Moisés se vê irado. Isso ocorre porque os soldados israelitas mataram todos os homens, mas pouparam as mulheres e as crianças. Então, Moisés em nome de Deus, manda matar as mulheres e as crianças do sexo masculino, restando apenas as crianças do sexo feminino que ainda eram virgens. Todo o despojo da guerra é apropriado pelos israelitas, porém uma parte devia ser oferecida à Deus. Isto é, uma parte do gado adquirido deveria ser sacrificado à Deus, assim como as ovelhas, jumentos e até mesmo humanos. Foram 32 almas oferecidas e sacrificadas à Deus. Muito curioso, não?

5. DEUS INSTIGA MATAR QUEM BUSCA OUTRA RELIGIÃO. (Deuteronômios capítulo 13, versículos 6 ao 9)


Fiquei sabendo de um ocorrido recente em que uma menina chamada Agnes, após ter fotos publicadas no Facebook mostrando sua religião que é o Candomblé, junto de uma mãe de santo, foi agredida verbalmente e fisicamente por colegas de escola. A foto da menina após a agressão é de partir o coração. Hematomas no rosto e um olho inchado. Estas coisas acontecem mesmo sem o extremista religioso cristão conhecer a passagem de Deuteronômios 13, em que Deus, diz expressamente para MATAR quem convidar a conhecer outra religião. A passagem diz para que isso seja feito mesmo que forem seus filhos, ou o grande amor de sua vida, ou mesmo seu melhor amigo. Não importa, Deus mandou matar. Este é o tipo de passagem que eu fico aliviado por as pessoas não conhecerem, mas pouco adianta diante destes animais religiosos, a pobre menina Agnes que o diga.

6. DEUS ENVIOU UM DEMÔNIO PARA CRIAR GUERRA ENTRE SIQUÉM E ABIMELEQUE. (Juízes capítulo 9, versículos 22 e 23)

Deus para se vingar da maldade que fora feita à casa de Jerubaal, enviou um demônio para criar discórdia entre os moradores de Siquém e os moradores de Abimeleque. Comumente o fiel cristão diz que as discórdias são provocadas por espíritos do mal, está de acordo com este trecho bíblico, porém, o espírito mau talvez apenas esteja obedecendo a uma ordem de sua chefia. Isto mesmo, o próprio Deus.

7. DEUS CASTIGOU UMA CIDADE INTEIRA COM HEMORROIDAS. (I Samuel capítulo 5, versículo 6)

Quando a arca de Deus fora saqueada pelos filisteus, Deus castigou todo o povo fazendo-os terem hemorróidas. O mais curioso de tudo isso é que o povo da cidade para purgar o pecado e se livrar desta praga, fizeram imagens de ouro de suas hemorroidas (1Sm capítulo 6, versículo 5).

8. DEUS FAZ SAUL FICAR POSSUÍDO POR UM DEMÔNIO. (I Samuel capítulo 19, versículo 9)

Deus fez um demônio se apossar do rei Saul, e este demônio ficava irritado quando Davi tocava a sua harpa. Então, o demônio/Saul pegou uma lança e atirou em Davi para matá-lo, a sorte de Davi é que ele se esquivou e a lança cravou na parede. Esse Deus não é mole não hein, cada uma que ele apronta.

9. SAUL PARTICIPA DE UMA SESSÃO ESPÍRITA E DEUS FAZ O ESPÍRITO VINDO DO ALÉM, PROFETIZAR. (1 Samuel capítulo 28, versículos 12 ao 15)

Muitos cristãos costumam ofender e criticar outras religiões, como nós vimos acima. Porém, poucos líderes dizem em suas igrejas que na Bíblia existe uma passagem em que o espírito do profeta Samuel é invocado do mundo dos mortos e profetiza para Saul a sua desgraça. A Bíblia não diz que é um demônio, nem que é um espírito qualquer, é Samuel, o profeta que já havia morrido. E ele entrega a profecia para Saul. De acordo com esta passagem da Bíblia o espiritismo é real. Mas espere um pouco, a Bíblia não diz que após a morte segue-se o juízo? (Hebreus capítulo 9, versículo 27). Será que a necromante que invocou o espírito de Samuel possuía poder o suficiente para arrancá-lo dos braços de Deus? É complicado isso aí.

10. HOMOSSEXUALISMO ENTRE DAVI E JÔNATAS. (2 Samuel capítulo 1, versículo 26)

A relação entre Davi e o filho do rei Saul é nada menos do que sugestiva ao homossexualismo. Eles constantemente se beijavam (1 Samuel capítulo 20, versículos 40 e 41), E a declaração de amor entre ambos era profunda ( 1Samuel capítulo 18, versículo 3). Davi foi considerado um homem segundo o coração de Deus (1Sm 13, 14), isso serve para acabar com os discursos de homofóbicos (embora a Bíblia condene expressamente o homossexualismo em Rm cp 1 vs 27), fica claro que o amor que Davi tinha por Jônatas era mais forte do que o amor por mulher (2 Samuel capítulo 1, versículo 26).

11. DEUS ENVIA DUAS URSAS PARA DESPEDAÇAR 40 CRIANÇAS QUE CHAMARAM O PROFETA DE CARECA. (2 Reis capítulo 2, versículos 23 e 24)

Sim, é exatamente isso. Eliseu estava a caminho de Betel, então, algumas crianças começaram a troçar dele, chamando-o de careca. Eliseu ficou indignado e Deus enviou os ursos para matar aquelas crianças. Algumas pessoas têm a pachorra de dizer que “entendem” o que Deus fez. Porém, se uma daquelas quarenta crianças fossem um filho, sobrinho ou neto, cairia à tona toda a revolta com a atitude de Deus. Isto a meu ver é hipocrisia, pois julgam o que Deus fez errado, mas, com medo do inferno negam seus princípios morais e dizem que “Deus sabe o que faz.” Quando Davi matou o marido de Betsabé por ter transado com ela em um terrível adultério seguido de assassinato (2 Samuel capítulo 11), em momento algum Deus mandou uma ursa para estripar-lo, e ainda por cima, Davi é o homem segundo o coração de Deus. Honestamente, não entendo o conceito de amor que define Deus.

12. DEUS PERMITE OS PROFETAS FALAREM MENTIRAS. (1 Reis capítulo 22, versículo 23)

A mentira é abominável aos olhos dos cristãos, e todos consideram Satanás como o pai da mentira, dito pelo próprio Jesus em João 8, 44. Mas e agora? Deus mesmo teve esta participação mentirosa para matar o rei Acabe. É de fato uma contradição, se a mentira é algo ruim, como Deus pôde fazer parte disto?

13. DEUS MANDA SEU SERVO EZEQUIEL COMER FEZES HUMANAS COM PÃO. (Ezequiel capítulo 4, versículos 12 e 13)

É exatamente isso que você leu, caro amigo leitor. Deus, indignado com o infiel povo de Israel, manda seu fiel servo Ezequiel comer bolo feito com fezes humanas. Ezequiel fica muito entristecido, pois ele é servo fiel e temente a Deus, chora e pede para Deus ter compaixão dele. Então, Deus sendo benevolente e por gostar de Ezequiel que lhe é fiel, permite que ele coma fezes de vaca no lugar de fezes humanas (Ezequiel capítulo 4, versículo 15).


Há ainda outras passagens tenebrosas, meus amigos, porém confesso já estar enfadado. O texto ficaria demasiado longo. A verdade é que muitos pensam conhecer a Bíblia, mas apenas conhecem a manipulação de líderes e instituições religiosas. Meu intuito não é fazer você conhecer a Bíblia, mas mostrar que a grande maioria não a conhece. Sei que muito dos fatos expostos aqui serão severamente defendidos por fanáticos religiosos, por mais absurdos que pareçam. Mas, lembre-se, você não precisa ficar inventando desculpas para defender a atitude de Deus, já que ele é todo poderoso. Muitos se convencem de que estes trechos bíblicos acima são um absurdo e que um Deus amoroso não procederia assim, mas, covardes e com medo do inferno, acham melhor não pensar sobre isso para não serem condenados. Hipócritas!

domingo, 13 de setembro de 2015

SOLUÇÕES ISOLADAS



A sociedade atual costuma-se valer de suas características de civilidade, em detrimento das características civis de outros tempos, principalmente no que tange a ausência de democracia, para que por meio de um discurso otimista se auto enquadre num perfil idealístico de coletividade. Desenvolvemos e aperfeiçoamos, portanto, mais especificamente no período pós revolução francesa, nosso senso do direito alheio e principalmente os conceitos de igualdade, liberdade e fraternidade.

Tendo por base tal nível de consciência moral, é possível deveras, em uma observação superficial, a afirmação que tal sociedade, devido à profundidade da reflexão social, desfrute da prática de um convívio ideal, longe de mazelas passadas como, por exemplo, a barbárie, o individualismo, a violência e a quebra de leis.

Entretanto, numa observação que exceda a superficialidade, e que se permita compreender fatores interligados, ficará satisfatoriamente clara a obtenção de respostas que satisfaçam questões a respeito da violência em nossa sociedade que desfruta de regras e leis severamente precisas. Nesta observação, o analista observará que não deve-se tratar a segurança de modo isolado à outras questões em nossa sociedade. A incapacidade da resolução de outros problemas faz com que o problema da segurança e violência seja apenas mais um no ciclo interligado das falhas sociais da civilização atual.

É possível observar neste ciclo, diversos itens que se auto-sustentem, segue o exemplo da má distribuição de renda, da péssima qualidade de vida, a dificuldade de acesso à educação de qualidade, a impunidade, o mau exemplo dos líderes, e principalmente a ganância do homem e seu sentimento individualista.

O problema da segurança no Brasil e na civilização moderna não poderá de maneira alguma ser sanado de forma isolada, pois, trata-se apenas de uma vertente de um macro problema que impede o ser humano de confiar nas diretrizes sociais e o faz migrar para o barbarismo, quando a sua segurança era satisfeita de forma individual, refiro-me a todo tipo de segurança, como a segurança, física, alimentar, educacional, sentimental, financeira, religiosa dentre diversas outras.

Cabe a sociedade trilhar o árduo caminho da busca destas soluções que certamente trata-se da compreensão metódica destas mazelas e de uma aplicação estratégica para a obtenção de resultados duradouros, não obstante, cabe ao indivíduo compreender que o comportamento individual confere graus de violência para o individuo alheio, desde a mínima contravenção até os mais terríveis casos de homicídios e corrupção. E se conscientizar que este sentimento individual é o principal ator antagonista na busca de uma sociedade mais justa, que visa toda a intenção de sincera coletividade.

sábado, 29 de agosto de 2015

A CRISE E A MUDANÇA



Eis que chega a crise. Momento detestável, denominado por muitos como uma “má fase”, ela não é reconhecida por apenas uma desventura, mas sim por uma seqüência de desventuras, fazendo-nos ficar inconformados com a vida. E surge aí uma excelente oportunidade, explicarei isto.

Todo mundo já passou por um momento de variações emocionais comumente chamados de “má fase”. É justamente neste momento que um indivíduo pode fazer uma avaliação de sua vida proveitosa, pois ele está insatisfeito. Esta insatisfação será saciada com conquistas. Assim como, uma pessoa que aos 30 anos percebe, em meio a uma “ma fase”, que, não fez nada da sua vida e muito de seus amigos de infância formaram-se na faculdade, por exemplo. Isto constrange-o, mas, mesmo em meio ao sentimento de auto-reprovação. Ele inicia o seu curso superior. É para isto que a crise serve, para sairmos do comodismo, para curarmos nossa insatisfação com a vida e alcançarmos objetivos. A crise antecede a mudança. Quando aprendermos a olhar os revezes da vida sob esta ótica, a da “oportunidade” caminharemos certamente para o desenvolvimento pessoal. Ele está simbolizado em nossos sonhos e objetivos, nossas metas e planejamentos. Tal como o rapaz de um vídeo que assisti recentemente no Facebook, que possuía uma obesidade mórbida, mas, ao vivenciar a “crise” e insatisfação com a vida, submeteu-se à uma severa disciplina de exercícios e em menos de 18 meses, tornou-se dono de um corpo invejável. Podemos entender que a “crise” tem a função de nos alertar e indicar o caminho para sair do ostracismo e do comodismo para crescermos como indivíduo e tornarmos pessoas melhores.

Acredito que ao desenvolvermos e dominarmos ao menos três condições mentais e psicológicas teremos em mãos a receita para sairmos da zona de crise e conquistarmos o que quisermos. Isso mesmo, o que quisermos!

Estas três condições mentais são a confiança, a motivação e a intuição. Vamos identificá-las.

A confiança trata ser a certeza inabalável das nossas capacidades. Muitos especialistas de futebol, por exemplo, costumam dizer que o sucesso de jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Zidane ou Neymar está na confiança de que o que eles ousam fazer simplesmente dará certo. Pense bem, o que os melhores jogadores de futebol fazem com a bola, os demais sabem como fazê-lo também, e em muitos casos falta-lhes a certeza de que dará certo o movimento com a bola em mente, na dúvida, simplesmente não tentam e fazem apenas o simples. Precisamos dominar este poder que há em nossas mentes. Pense em algo em que você é verdadeiramente bom em fazer, pode ser um esporte, um trabalho técnico, o domínio de um idioma ou instrumento ou até mesmo um jogo de vídeo-game. Seja o que for. Se fores bom, há a bendita confiança lhe auxiliando.

A motivação está atrelada ao prazer e satisfação. Tal como aquele breve texto da faculdade que você deve ler, mas está sem um pingo de paciência para tal, e demora anos para finalizá-lo. Mas, em contrapartida, aquele livro de ficção imenso você o devora sem delongas. A motivação faz você executar tarefas de maneira prazerosa e eficaz. E mesmo quando se depara com um quebra-cabeça de problemas, você encontra um jeito de resolvê-lo. Desta forma surgiram inventores, cientistas e grandes empresários. Eles estavam motivados.

E por fim a intuição. Ela tem por base a experiência de vida. Pois se trata de puro instinto, que antecipa o que lhe pode ser ruim ou bom por meio de uma leitura subliminar e de calculo de movimentos feito mentalmente, a intuição aqui nada tem haver com misticismo, ou apostas de azar. A intuição serve para evitarmos o fracasso e o retorno para a “má fase” e o estado de crise. Neste esforço, ela fará uso da inteligência, experiência, do medo, cautela e tudo mais. Uma pessoa focada, com a intuição desenvolvida, certamente chegará à lugares altos.


Quando estiver triste com a vida, em meio a insatisfação com o rumo com que ela tem tomado, saiba que um primeiro dispositivo foi acionado dentro de você, que é o desejo de sair deste buraco. Agora organize o seu sucesso. Desenvolva a confiança, a intuição e a motivação e conquiste o mundo!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

MENINOS E MENINAS



A atração entre homens e mulheres é um tema complicado. Quantas questões mal entendidas escoam deste verdadeiro conflito? Paixões? Opressão machista? Movimento feminista? Crises de ciúmes, depressões, promiscuidades e solidão. Por que lidar com o amor e o desejo é tão complicado?  

Vamos dividir o comportamento humano em duas vertentes; emocional e racional. Não é difícil sintetizar. O comportamento derivado da lógica e da frieza intelectual nós iremos tratar como racional. Já o comportamento proveniente dos sentimentos e das manifestações instintivas, trataremos como emocional. Obviamente, para o ser humano, estes valores são intrínsecos e se influenciam mutuamente. Contudo, é possível identificar as origens dos nossos comportamentos, que terão estes dois valores por origem.

O amor, desejo e atração entre homens e mulheres é um comportamento emocional, instintivo, animalesco e de caráter evolutivo. E assemelha-se mais à um conflito do que uma união. Isto porque, na relação homem-mulher a memória biológica de ambos visará primeiramente as possibilidades de vantagens. Isso mesmo, a relação de gênero é na verdade uma busca de interesse próprio, começando por querer livrar-se da solidão. Biologicamente, o homem segue o padrão dos gêneros ativos da natureza, que tem como objetivo espalhar ao máximo a sua semente entre indivíduos do gênero receptivo, como por exemplo, a semente do Dente-de-Leão. Da mesma forma, a mulher segue o padrão dos gêneros passivos, e tem por objetivo assegurar a segurança de sua prole e a sua própria também.

Daí vem a resposta para a grande aflição de apaixonados do mundo inteiro, pois a espécie humana atingiu um grau de desenvolvimento em que busca racionalizar quase todas as questões, e isto se torna um problema quando se trata do amor. Pois o amor é instinto, busca interesses e faz parte da memória evolutiva de todas as espécies, inclusive a nossa. Evolutivamente, para o ser humano, o sexo oposto é útil. E pense bem, tudo aquilo que traz utilidade, não carrega o valor final em si mesmo. Assim como um curso preparatório (útil) que lhe prepara para o emprego (finalidade).

É comum criticar o comportamento de mulheres que preferem o homem que se destaca e que possui poder financeiro, fama ou qualquer valor que lhe agregue status e poder. Mas a mulher não o faz por mero interesse, trata-se de sua inclinação evolutiva que a faz buscar o macho que garantirá segurança para si e para sua prole. Esta segurança apresenta-se simbolizada virtualmente na aparente força masculina, sob vários aspectos, desde o financeiro, emocional e até mesmo físico. Estas mesmas mulheres também criticam o homem por sua necessidade de relacionar-se com diversas mulheres, pois para a mulher é um absurdo a maneira como o homem consegue lidar com a relação sexual. Não precisa haver um passado romântico, nem mesmo conhecimento prévio, o caráter é praticamente deixado para segundo plano. Apenas o sexo importa. Esta divergência e crítica mútua provém da crença errônea de que ambos, isto é, homens e mulheres emocionam-se, atraem-se e excitam-se de maneira semelhante. Por exemplo, uma jovem que se apaixona, imagina que os mesmos fatores que despertaram sua paixão poderão despertar a paixão no homem, e vice versa. Isto é um erro. Se os gêneros buscam interesses distintos, observarão aspectos distintos.

Porém, o grande fato é que se toda esta atração é um proveniente instintivo, não será um caso inédito a supressão de certas inclinações instintivas indesejadas. O ser humano vem fazendo isso ao longo de muitos anos para poder viver socialmente. É só pesquisar sobre o conceito de neurose na psicanálise.

Muitos poderão achar esta postagem racionalista por demais, bem como fria e sem o brilho emocional que a sociedade ensina aos indivíduos, por meio do amor platônico, representado em filmes e músicas, fazendo-nos acreditar que tudo é um verdadeiro conto de fadas. Mas poderá ser um conto de fadas. Quando duas pessoas, por fim, superar os interesses instintivos e passar a enxergar no consorte a grande finalidade de sua vida.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

CORRESPONDÊNCIAS




6 de Janeiro.

Caro Peter.

Lamento severamente não ter lhe desejado um porvir de ano bem venturoso em momento mais elegante, que teria sido nos dias anteriores, quando ainda as comemorações de fim de ano estavam na atmosfera, com todas suas verdades e mentiras sobre a felicidade e esperança de dias melhores. Já se fazem 5 meses e dezesseis dias desde que começamos a trocar correspondências, e honestamente, gostaria de me assegurar que as mesmas sejam regulares. Em uma atitude de autodisciplina, decidi, nesta segunda feira, escrever-lhe este singelo e-mail, e aproveitar o ensejo para lhe agradecer as recomendações sobre repensar a origem de minhas emoções, sobretudo as mágoas, e aos livros sugeridos. Tenho me alimentado melhor, mas ainda sinto-me receoso de sair de casa. Sinto que as coisas podem melhorar e sou eternamente grato por sua ajuda.

Atenciosamente; Matthew.


12 de Janeiro.

Ao meu nobre e verdadeiro amigo. Peter.

Desejo-te toda a felicidade do mundo. Pois, certamente há em ti, grande e sincero dom. Escolho o da caridade, o preferido de São Paulo, para adjetivar sobre ti, caro Peter. Teus conselhos são verdadeiros e muito proveitosos ao aflito de alma. Neste sábado último, houve grande progresso. Certos familiares distantes apareceram em visita inesperada, e não demonstrei nenhuma instabilidade, ao contrário, dei-me a palestrar sobre os assuntos que domino e amo, como bem sabe. E encontrei em meus parentes bons e atenciosos ouvintes. Conscientizo-me de que tudo quanto tens me aconselhado e sugerido é bastante proveitoso. E mesmo sendo uma pessoa tão importante, preocupa-te com este miserável, porém devoto amigo. Agora compreendo o que queria dizer São Paulo aos Coríntios, em sua primeira epístola. Acima de qualquer dom, precisamos ser caridosos, ter o desejo de doar. É isso que tens me ensinado a exercitar, e o fiz nesta semana. O resultado; um novo Matthew. Bom companheiro, pronto para se socializar, conversar e de agradável companhia. Obrigado, Peter. Sem Caridade, nada somos.

Att, Matthew.


18 de Janeiro.

Caro Peter.

Estou novamente sendo assaltado por pensamentos ruins. Quero pensar que tudo é apenas fruto de uma leve recaída, mas estou com medo. Não quero regredir, depois de tanto progresso. Hoje falei sobre você com a minha mãe. Ela veio me perguntar se eu gostaria de ver alguém no meu aniversário que já se aproxima. Disse sobre você, meu amigo Peter Ártonus. E sobre a inviabilidade de nos vermos. Quando eu era criança, imaginava que quando eu estivesse com dezenove anos, seria a pessoa mais bacana do mundo. Não lamento por isso, lamento por não ser mais criança. Toda a lembrança da minha infância é ofuscada pelo o que aconteceu. Estou muito triste, amigo. Lamento não atender à sua expectativa sobre mim.

Um forte abraço, Matthew.


27 de Janeiro.

Obrigado por novamente cercar-me com plausíveis conselhos, caro Peter. Mas, temo ser um estorvo à ti. Talvez devessem cessar as nossas correspondências. Obrigado por tudo.


11 de Fevereiro.

Caro Peter.

Desapontei a ti, grande amigo. Quão fraco sou? Não há como saber. Pois, tal qual é a profundidade de um poço em contínuo escavar, assim é a minha covardia e miséria. Tentei lançar-me ao profundo sono, farto de toda esta palhaçada da qual apelidamos “vida”. Mesmo convencido de tuas sábias palavras, que me exortou e me fez entender que, não quero que finde a minha vida, mas sim as minhas aflições. Porém, ambos fundem-se num turbilhão de desapontamentos. Pensei em escrever-te na noite passada, no entanto, não estava eu com as minhas funções motoras em perfeito estado, devido as diversos sedativos do hospital. Meu aniversário se aproxima, Peter. Mas tudo o que sinto é a incessante sensação de que não sou bem vindo aqui, neste mundo. Não quero alardeá-lo com meus fracassos. Sei que teu dom caridoso é honesto, mas nem mesmo tu, sendo tão versátil pessoa, podes resolver todas as coisas. Eu sou um caso perdido. Não te preocupa amigo. Não irei tirar minha vida por enquanto. Já estou dependente de toda esta maldita melancolia.

Matthew.


21 de Fevereiro.

Peter.

O pesar da minha dor persevera, meu amigo. E após perder tanto nesta vida, sinto, que por fim, perderei o equilíbrio de minhas faculdades mentais. Coisas incomuns passaram a acontecer nos últimos dois dias. Minha mãe disse ter escutado risos femininos em meu quarto e que teve a leve impressão de ter visto alguém com um cabelo negro como a noite adentrar ao meu quarto. Sabes que não mantenho contato com quase ninguém, exceto com alguns familiares e amigos que raramente me visitam. Ontem, pela tarde, ouvi o telefone tocar, mas não quis atender. Era meu irmão, que posteriormente disse à minha mãe que uma pessoa com voz feminina atendeu, disse que eu estava dormindo e que depois daria o recado. Quando meu irmão perguntou quem era, a suposta mulher simplesmente desligou o telefone. Neste momento eu estava febril, ainda agora, sinto no paladar o gosto da bílis, resultado da minha má alimentação. Tenho estado doente quase todos os dias. Não pensei em escrever-te hoje, mas, agora à poucos minutos estava eu tendo um sonho de não pouca curiosidade. Estava em uma cidade deserta em meio à um chuvisco de miúdas gotas d’águas e cinzento céu. Tão melancólico quanto eu. Eis que o chão abriu-se para me engolir. Tive medo, mas entreguei-me. Quando o fiz, vi todas as pessoas que amo sendo devoradas por sombras. Tu estavas lá, Peter. Não sei como é o teu rosto, amigo. Mas a tua presença naquela carnificina era tão real quanto ao desespero que tive de te perder em meio aos meus. Gritei e me desesperei para salvar-te e aos outros. Quando então alguém me despertou. A princípio pensei ser a minha mãe, mas, sua mão em minha testa, alisando o meu rosto era frio como a morte. Quando finalmente despertei tomei um sobressalto. Não era a minha mãe e sim uma mulher, com longos cabelos negro e um rosto indefinido. Desapareceu de repente. Pondo em dúvida a minha lucidez. Sei que acreditas em mim, caro amigo. Não sobrou-me nada nesta vida para que encontrasse motivo para troças ou chocarrices.

Seu amigo, Matthew.

22 de Fevereiro.

Caro amigo Peter.

O que irei narrar a partir de agora, deixou-me tão estupefato quando em ocorrência, quanto agora que lho escrevo.
Noite passada, ao tentar dormir, senti um frio repentino abastecer o meu quarto. O aparelho de ar condicionado desligado e nenhuma passagem de ar disponível fizeram-me entender que algo de anômalo estava acontecendo. Aí então eu a vi, encolhida e imóvel, no canto do quarto. Com seus longos cabelos negros ocultando seu rosto. Não vacilava em sua imobilidade. Tal qual uma estátua. Até que comecei a ouvir certos gemidos. Neste momento o medo já havia me transpassado e em seguida identifiquei com mui dificuldade a seguinte palavra; “frio”. Reuni coragem e perguntei:

- Quem é você?

Não houve resposta, mas houve movimento. Lentamente, o espectro encolhido em meu quarto levantou-se e revelou um rosto pálido e sem vida de uma jovem. Tão triste quanto a minha vida, seus olhos estavam lacrimejantes. Parecia ela o final de um filme triste, como a completa sensação de tristeza. Ficou imóvel, fitando-me, deixando-me nu ao seu triste olhar. Parecia enxergar a forma do meu medo.

- Todos mentem quando dizem que o fogo governa o inferno. Só há frio e escuridão na morte. - Disse o espectro feminino fitando-me, sem pestanejar, nem mesmo respirar.

- Não entendo coisas da morte, pois não sou morto. Entendo coisas da vida. Mas desejo a morte. - Tentei dialogar com a entidade que se revelara a mim.

- Por que mentes a mim, visto que já tenho provado tantas mentiras. Ocultaram-me o frio que existe na pós-vida, e agora, mentes a mim. Dizendo-me que queres a morte, quando são evidentes os medos que embotam o teu olhar.

- Quero a morte, não por mera opção. Sou rejeitado pela vida, esta me insiste em enxotar, tal qual se faz à um cão indesejado. – Objetei.

- A vida rejeita a todos. Uns cedo, outros mais tarde. Mas, aqueles que rejeitam a vida não são dados ao medo. Só se pode sentir medo quando há o amor, daí também provém a tristeza. Porém, triste ou não, se há amor há também o desejo de vida. – Disse o espectro de forma monótona, porém determinante, como se já houvesse experimentado mil vidas.

- Toma-me por mentiroso ou por covarde? – Perguntei, com mais confusão do que valentia.

- Ter medo não significa ser covarde. Pelo contrário, aponta para a coragem. Pois somente com a presença do medo a coragem ganha sentido. És mentiroso, mas não o faz por maldade, e sim por confusão. Não sabes explicar as origens de teus anseios, e lhes dá sentidos fabulosos e inverídicos.

Ela aproximou-se de mim como se não caminhasse e ficou cara a cara comigo, e disse:

- Eu estou aqui agora, para resolver nossos problemas. Irei mostrar-te um caminho excelente. – Em seguida beijou-me tão profundamente que pensei ter perdido os sentidos. Tive uma sensação de vazio extremo, mas, senti-me profundamente amado quando ela disse:

- Chamo-me Alissa. – E desapareceu.

Isto é o que tenho experimentado caro amigo. Após isso, o espectro deixou-me e o sono me fugiu. Sei claramente que sou desventuroso, agora também sou assombrado.

Estas são palavras fiéis e verdadeiras.
Grato. Matthew.


4 de Março.

Caro Peter.

Entendo claramente sua ânsia por soluções plausíveis, e honestamente, eu mesmo teria duvidado se não tivesse vivido o que tenho experimentado nestes tristes dias. Mas garanto-lhe, caro amigo. Não se trata de alucinações, e sim, cessei de tomar os remédios antidepressivos, pois eles deixam-me os artelhos inchados.
Não somente a experiência anterior é verídica, como também, as que se seguiram após nosso contato.

Certa noite, após o ultimo ocorrido, estava eu ansioso e ao mesmo tempo receoso ao possível contato com Alissa. No entanto, passaram-se 4 dias sem que nenhum vestígio do espectro aparecesse. Por fim, fui atacado novamente por uma forte depressão. Parei de me alimentar de forma regular e no quinto dia estava fraco e moribundo.
Deitado na cama senti Alissa materializando-se ao meu lado, deitada comigo, encarando-me com chorosos olhos. Linda, tal qual o além deve ser. Disse-lhe:

- Não te encontrava em lugar nenhum.

- Não estava encontrando espaço em ti. – Disse-me Alissa, acariciando-me com seus dedos de gelo.

- Descobri que toda morada dentro de mim, é para ti. Tenho sido desgostoso da vida. Mas, tua sabedoria e teu carinho, tem me dado gosto por viver. – Disse eu, descobrindo-me apaixonado.

- Coisa difícil é este empreendimento. Pode por ventura acender-se uma candeia submersa? Ou habitar as trevas com a luz? Pode por ventura fazer manutenção da vida quando se deseja a morte? – Alissa fez estas perguntas rompendo-se em lágrimas em um rosto pálido e inexpressível.

- Não encontro respostas para estas perguntas, pois me parecem capciosas e as tenho por um engodo de lógica, aparentando fácil resposta. Sei que me ajudas. Teu beijo mostrou-me a vida. Desde aquele dia fui outro homem. Feliz, como nunca antes, forte de maneira inédita. Tu mesma me ensinaste sobre os conceitos de valentia e felicidade. Obrigado.

Neste momento Alissa mostrou pela primeira vez uma expressão em seu pálido rosto, belo e póstumo. A expressão era de pesar e desesperança. E disse:

- Meu pobre Matt. Tu ainda não compreendeste o motivo de minha dor. Mas deixa por hora, apenas ama-me. Pois eu também te amo. E fica tu comigo.

Após isto, todos os dias, pela noite, Alissa vem visitar-me. E lança-se em meus braços em verdadeiro amor. Não sinto mais vontade alguma de sair de meu quarto. Mesmo durante o dia, quando minha mãe roga-me para que eu saia, faça a barba e retome meus estudos. Eu nego. Só Alissa me importa. E ela, da mesma forma tem mostrado-se menos melancólica. Até sorri. Acho que encontrei o fim dos meus lamentos.

Muito obrigado pela atenção, meu amigo Peter.

Att, Matthew.


15 de Março.

Caro amigo Peter.

Sei que o espantei, severamente, sob diversos aspectos no ultimo e-mail que lhe enviei. Estou novamente internado, já se fazem 4 dias, e somente hoje minha mãe trouxe o notebook para que possamos nos comunicar.

Continuo vendo Alissa regularmente, sempre que estou com ela, sou tomado por tão forte emoção que em seguida, sinto que uma parte da minha vida foi embora. Tal é meu amor por minha amada. Mas não temo, ela sempre vem. Mesmo aqui no hospital. Ela foi flagrada pelas câmeras de vigilância, os funcionários do hospital estão com medo, pensam que ela os fará mal. Alissa me disse que eles perdem tempo em pensar que fará mal à eles, e que o único objetivo dela, sou eu. Tenho vivido momentos muito bons com ela, nobre amigo. A fraqueza de minha saúde importuna-me até mesmo agora, para digitar-te estas palavras com o uso do notebook. Mas não quando estou com Alissa. Ela me diz que o meu amor alimenta-a e a tem tornado forte. Isso me deixa feliz, pois, assim ela poderá me proteger. Gostaria de falar mais, amigo. Mas estou terrivelmente debilitado.

Seu amigo, Matthew.

18 de Março.

Amigo Peter.

Existe a grande probabilidade de que eu vá me unir à Alissa. E quero que saiba que vi grande sentido e entendi claramente o teu raciocínio. Sei que Alissa sobrevive de mim e está drenando a minha vida. Mas, contesto se isso de fato é algo ruim. Pois agrada-me a doce companhia de minha amada.
Mas confesso estar bem pensativo a respeito de teus conselhos, e, só por isso, Alissa já se mostrou melancólica.

Entendo claramente o que está acontecendo, caro amigo. Sei que a escolha de viver ou morrer está em minhas mãos. Alissa concordou com estas tuas palavras, disse-me que tenho até o dia 20, para escolher o que quero. Após isto, deixarei esta existência.

Matthew.

19 de Março.

Agradeço por tuas sábias palavras, Peter. Elas são de grande valia para mim. Entretanto, na multidão de tua sabedoria, meditarei em uma parte especial de tuas palavras. Afinal, não somente Alissa, mas também você, tem se importado grandemente comigo. Então meditarei nas tuas sábias palavras, amigo.

“Sobreviver às trevas, à tormenta, ao inferno... Mesmo que a luz tenha se ausentado dos olhos, mesmo que toda a tripulação tenha morrido, mesmo que todas as almas tenham perecido... Sobreviver a isto significa transcender.”

30 de Março.

Meu nobre amigo Peter.

Quero te agradecer pelo teu comprometimento com a nossa amizade. Perdoe-me a demora para responder-te e fico muito feliz por tua notável preocupação para comigo. És um amigo de verdade. Encontro-me razoavelmente sem tempo, reiniciei meu curso universitário. Tenho bastante coisa para relatar a ti, caro amigo. O farei em breve.

Com muita estima. Matthew.

3 de Abril.

Caro amigo Peter.

Era para eu ter chegado em minha casa algumas horas atrás, porém, estava a conversar com bons amigos. Você ainda é meu grande amigo, caro Peter, se hoje tenho outros, devo a ti sinceros agradecimentos.
Quero relatar-te o fim que se deu na minha sinistra história com a entidade alcunhada por Alissa.

Entendi que devia eu decidir-me pela vida ou pela morte, esta ultima apresentou-se tentadora, na forma de uma jovem acolhedora, compreensível e sedutora. Esta drenava-me a vida com seu encanto, fazendo-me adoecer e vegetar. Mas pensando em tuas sábias palavras, tive de falar sério assunto com Alissa.
Ela disse-me que o fato de eu ter compreendido mostrava-se uma evolução, e revelou saber toda a desventura que lançou-me naquele estado de depressão. Descreveu com singular precisão o dia do acidente, quando eu dirigia naquela chuva e, meu melhor amigo, e minha namorada perderam a vida por minha imprudência, como bem já relatei a ti.
Alissa representava o meu medo, minha raiva, e meu pesar. Apeguei-me a tudo isso e tornou-se o meu vício. Tudo isto drenava-me para o inferno. Gelado, como a própria sedutora Alissa descrevera.
Tive que abandoná-la, como bem me aconselhaste. Larguei a morte e inclinei-me à vida. Hoje, tomei coragem e visitei os parentes das vítimas. Chorei deveras, nobre Peter. Encontrei consolo, achei que não era digno, vi, de relance o reflexo de Alissa no espelho e lembrei que a decisão de seguir em frente é apenas minha.
Antes de ir embora, Alissa me disse que há de fato outros planos de existência e disse que eu terei uma louvável pós vida, se eu migrar nesta direção de evolução, superando todos estes demônios do passado e procurando sempre fazer o bem. Despediu-se para nunca mais voltar.

Matthew.

12 de Abril.

Deverei desembarcar no aeroporto por volta das 15 horas, nobre amigo. Fiquei feliz pelo convite e iniciativa para que nos conhecêssemos. Estou tomando a liberdade de levar Eliza comigo. Estamos namorando, penso que ficará feliz em conhecê-la. O tempo está ótimo, poderemos ir à um bom restaurante pela noite. Aproveitarei e falarei sobre a ONG da qual faço parte junto de Eliza. Um forte abraço e até breve.


Matthew.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

A GRANDE REALIDADE


O que você considera ser realidade? Eis aí um tipo de pergunta que, aparentemente pode ser rapidamente respondida. Alguns diriam que realidade é o que se pode ver. Já outros gostam de dizer que a realidade é aquilo que é palpável. É realmente difícil de discordar, mas deve ser discordado.

Na escola, nos primeiros anos letivos, aprendemos a distinguir o concreto do abstrato. Um tijolo, por exemplo, trata-se ser um objeto, portanto é concreto, e assim o julgamos como algo real. Mas, a saudade que sinto da infância é um sentimento, portanto, é abstrato. Seria a saudade algo real? Obviamente que sim, tanto quanto o tijolo. Mas existe uma brusca diferença entre, definir o que é real e definir o que é realidade. “A realidade é que você não me ama!” Exclama uma triste jovem para o seu namorado, definindo enfaticamente o que seria a realidade. “Nos filmes, há sempre finais felizes, porém, na realidade é bem diferente.” Afirma o pai ao seu filho, aplicando-lhe uma grande lição de vida. Aparentemente, todos nós sabemos o que é a realidade. Será que sabemos mesmo?

De uma forma mais sofisticada, se, a realidade é considerada ser o que se pode ver ou o que é palpável, pode-se dizer, de forma mais abrangente que, a realidade é aquilo que percebemos por meio dos nossos cinco sentidos. De fato, é esta a realidade que percebemos. Tudo que conhecemos da vida, só conhecemos por meio dos nossos sentidos. Gostamos do sabor da manga por meio do paladar. Daquela música eletrônica por meio da audição. Tudo o que conhecemos da vida é filtrado pelos sentidos, porém esta é a realidade que percebemos e não a realidade em sua essência.

Nossos sentidos são imperfeitos, logo, a leitura que fazemos da realidade, por meio dos sentidos é imperfeita. Temos somente uma compreensão limitada da realidade. Nossa visão, mesmo sendo o nosso principal sentido, nem de longe faz um sensoriamento honesto. Há muito mais espectros de radiações que estão além das cores “visíveis” pelos olhos. Nossa visão não é sensível, por exemplo, ao infravermelho, porém ele está lá, quando você aperta o botão do controle remoto. Ele é real, porém não o sentimos. Já a cobra, alguns peixes e alguns mosquitos são sensíveis ao infravermelho. Quanto ao olfato dispensam-se comentários. Comparado ao do cão, nosso olfato não é nada. O cão possui um olfato tão apurado que, para refazer um trajeto de volta ao lar, usa o olfato para “lembrar-se” do caminho de volta. E isso vale para todos os demais sentidos com os quais entendemos o mundo e a realidade. Mas não para por aí.

Não obstante, além de nossos sentidos não serem os melhores dentro do reino animal, se meditar bem, nenhum animal neste planeta, por mais desenvolvido que seja seus sentidos, poderá fazer uma leitura fiel da realidade. Quando você interage com algo pertencente à “realidade”, como por exemplo, ao tocar em um cubo de gelo, você sentirá a superfície escorregadia e úmida do gelo, a baixa temperatura... Mas todas estas sensações são na verdade, sinais elétricos que o sentido do tato emite para o seu cérebro. Estes sinais são uma interpretação subjetiva da realidade, não é a realidade em si. Todos os sentidos emitem sinais elétricos para a mente, e a mente interpreta a realidade. Tudo o que você conhece como real e realidade é uma projeção da sua própria mente, interpretando de forma limitada a verdadeira realidade. Nem mesmo interagimos, de fato com os objetos, segundo as leis físicas, nunca encostamos realmente em outra matéria, pois, em essência, os átomos que constituem as matérias nunca se encostam de verdade.

Alguém poderia dizer: “Eu sou a realidade”. Será? Pense bem: Você é um indivíduo em meio à 7 bilhões de pessoas que vivem neste planeta. Nosso planeta é apenas um dentre milhares e milhares de planetas em nossa galáxia Via Láctea. A Via Láctea é apenas uma galáxia dentre bilhões de galáxias no universo. E por fim, nosso universo pode ser apenas um entre outros bilhões de universos. Em escala cósmica nós nem sequer existimos.

Somos seres que percebemos a realidade em apenas três dimensões, sendo que a quarta, isto é, espaço-tempo, podemos percebê-la, mas estamos sujeitos às limitações desta quarta dimensão. Vale ressaltar esta limitação, pois, vemos o tempo passar linearmente, mas o tempo é relativo e o passado e presente não são absolutos. Se algum ser dominasse esta quarta dimensão, poderia se deslocar instantaneamente para qualquer ponto do universo conhecido e, o passado e futuro seriam algo como subir e descer uma ladeira. São coisas difíceis de compreender, pois, o que julgamos ser realidade não dá margem para estas “loucas” possibilidades. Ao olhar para o céu noturno e limpo, muitas das lindas estrelas que observares poderão nem mesmo existir mais, pois você certamente estará olhando uma imagem de um remoto passado, de até milhares de anos atrás, mesmo que você à julgue como um item da realidade, pois o que se vê é a luz que foi emitida por aquele corpo, que atravessa o vasto espaço para chegar até a sua retina. E isso leva tempo.


A realidade é uma projeção interpretativa da sua mente, e para nós, todo o universo é mental e talvez nunca saibamos o que é de fato a realidade. Mas uma coisa é certa, se o que julgamos ser realidade não o é de fato, logo, a realidade é algo ainda não atingido, qualificado então como transcendental. O que julgamos ser realidade, mesmo não sendo a verdadeira realidade, é, no entanto a nossa realidade. E é até bom que esta não seja a absoluta. Para vós, tal como eu, curiosos, é preciso dizer algo: temos um mistério à descobrir. Precisamos “tirar as escamas dos olhos”. Talvez a verdadeira realidade seja o que os antigos denominavam como “espiritual”. E acessar esta verdadeira realidade, pode ser o verdadeiro significado da vida.