sábado, 29 de agosto de 2015

A CRISE E A MUDANÇA



Eis que chega a crise. Momento detestável, denominado por muitos como uma “má fase”, ela não é reconhecida por apenas uma desventura, mas sim por uma seqüência de desventuras, fazendo-nos ficar inconformados com a vida. E surge aí uma excelente oportunidade, explicarei isto.

Todo mundo já passou por um momento de variações emocionais comumente chamados de “má fase”. É justamente neste momento que um indivíduo pode fazer uma avaliação de sua vida proveitosa, pois ele está insatisfeito. Esta insatisfação será saciada com conquistas. Assim como, uma pessoa que aos 30 anos percebe, em meio a uma “ma fase”, que, não fez nada da sua vida e muito de seus amigos de infância formaram-se na faculdade, por exemplo. Isto constrange-o, mas, mesmo em meio ao sentimento de auto-reprovação. Ele inicia o seu curso superior. É para isto que a crise serve, para sairmos do comodismo, para curarmos nossa insatisfação com a vida e alcançarmos objetivos. A crise antecede a mudança. Quando aprendermos a olhar os revezes da vida sob esta ótica, a da “oportunidade” caminharemos certamente para o desenvolvimento pessoal. Ele está simbolizado em nossos sonhos e objetivos, nossas metas e planejamentos. Tal como o rapaz de um vídeo que assisti recentemente no Facebook, que possuía uma obesidade mórbida, mas, ao vivenciar a “crise” e insatisfação com a vida, submeteu-se à uma severa disciplina de exercícios e em menos de 18 meses, tornou-se dono de um corpo invejável. Podemos entender que a “crise” tem a função de nos alertar e indicar o caminho para sair do ostracismo e do comodismo para crescermos como indivíduo e tornarmos pessoas melhores.

Acredito que ao desenvolvermos e dominarmos ao menos três condições mentais e psicológicas teremos em mãos a receita para sairmos da zona de crise e conquistarmos o que quisermos. Isso mesmo, o que quisermos!

Estas três condições mentais são a confiança, a motivação e a intuição. Vamos identificá-las.

A confiança trata ser a certeza inabalável das nossas capacidades. Muitos especialistas de futebol, por exemplo, costumam dizer que o sucesso de jogadores como Ronaldinho Gaúcho, Zidane ou Neymar está na confiança de que o que eles ousam fazer simplesmente dará certo. Pense bem, o que os melhores jogadores de futebol fazem com a bola, os demais sabem como fazê-lo também, e em muitos casos falta-lhes a certeza de que dará certo o movimento com a bola em mente, na dúvida, simplesmente não tentam e fazem apenas o simples. Precisamos dominar este poder que há em nossas mentes. Pense em algo em que você é verdadeiramente bom em fazer, pode ser um esporte, um trabalho técnico, o domínio de um idioma ou instrumento ou até mesmo um jogo de vídeo-game. Seja o que for. Se fores bom, há a bendita confiança lhe auxiliando.

A motivação está atrelada ao prazer e satisfação. Tal como aquele breve texto da faculdade que você deve ler, mas está sem um pingo de paciência para tal, e demora anos para finalizá-lo. Mas, em contrapartida, aquele livro de ficção imenso você o devora sem delongas. A motivação faz você executar tarefas de maneira prazerosa e eficaz. E mesmo quando se depara com um quebra-cabeça de problemas, você encontra um jeito de resolvê-lo. Desta forma surgiram inventores, cientistas e grandes empresários. Eles estavam motivados.

E por fim a intuição. Ela tem por base a experiência de vida. Pois se trata de puro instinto, que antecipa o que lhe pode ser ruim ou bom por meio de uma leitura subliminar e de calculo de movimentos feito mentalmente, a intuição aqui nada tem haver com misticismo, ou apostas de azar. A intuição serve para evitarmos o fracasso e o retorno para a “má fase” e o estado de crise. Neste esforço, ela fará uso da inteligência, experiência, do medo, cautela e tudo mais. Uma pessoa focada, com a intuição desenvolvida, certamente chegará à lugares altos.


Quando estiver triste com a vida, em meio a insatisfação com o rumo com que ela tem tomado, saiba que um primeiro dispositivo foi acionado dentro de você, que é o desejo de sair deste buraco. Agora organize o seu sucesso. Desenvolva a confiança, a intuição e a motivação e conquiste o mundo!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

MENINOS E MENINAS



A atração entre homens e mulheres é um tema complicado. Quantas questões mal entendidas escoam deste verdadeiro conflito? Paixões? Opressão machista? Movimento feminista? Crises de ciúmes, depressões, promiscuidades e solidão. Por que lidar com o amor e o desejo é tão complicado?  

Vamos dividir o comportamento humano em duas vertentes; emocional e racional. Não é difícil sintetizar. O comportamento derivado da lógica e da frieza intelectual nós iremos tratar como racional. Já o comportamento proveniente dos sentimentos e das manifestações instintivas, trataremos como emocional. Obviamente, para o ser humano, estes valores são intrínsecos e se influenciam mutuamente. Contudo, é possível identificar as origens dos nossos comportamentos, que terão estes dois valores por origem.

O amor, desejo e atração entre homens e mulheres é um comportamento emocional, instintivo, animalesco e de caráter evolutivo. E assemelha-se mais à um conflito do que uma união. Isto porque, na relação homem-mulher a memória biológica de ambos visará primeiramente as possibilidades de vantagens. Isso mesmo, a relação de gênero é na verdade uma busca de interesse próprio, começando por querer livrar-se da solidão. Biologicamente, o homem segue o padrão dos gêneros ativos da natureza, que tem como objetivo espalhar ao máximo a sua semente entre indivíduos do gênero receptivo, como por exemplo, a semente do Dente-de-Leão. Da mesma forma, a mulher segue o padrão dos gêneros passivos, e tem por objetivo assegurar a segurança de sua prole e a sua própria também.

Daí vem a resposta para a grande aflição de apaixonados do mundo inteiro, pois a espécie humana atingiu um grau de desenvolvimento em que busca racionalizar quase todas as questões, e isto se torna um problema quando se trata do amor. Pois o amor é instinto, busca interesses e faz parte da memória evolutiva de todas as espécies, inclusive a nossa. Evolutivamente, para o ser humano, o sexo oposto é útil. E pense bem, tudo aquilo que traz utilidade, não carrega o valor final em si mesmo. Assim como um curso preparatório (útil) que lhe prepara para o emprego (finalidade).

É comum criticar o comportamento de mulheres que preferem o homem que se destaca e que possui poder financeiro, fama ou qualquer valor que lhe agregue status e poder. Mas a mulher não o faz por mero interesse, trata-se de sua inclinação evolutiva que a faz buscar o macho que garantirá segurança para si e para sua prole. Esta segurança apresenta-se simbolizada virtualmente na aparente força masculina, sob vários aspectos, desde o financeiro, emocional e até mesmo físico. Estas mesmas mulheres também criticam o homem por sua necessidade de relacionar-se com diversas mulheres, pois para a mulher é um absurdo a maneira como o homem consegue lidar com a relação sexual. Não precisa haver um passado romântico, nem mesmo conhecimento prévio, o caráter é praticamente deixado para segundo plano. Apenas o sexo importa. Esta divergência e crítica mútua provém da crença errônea de que ambos, isto é, homens e mulheres emocionam-se, atraem-se e excitam-se de maneira semelhante. Por exemplo, uma jovem que se apaixona, imagina que os mesmos fatores que despertaram sua paixão poderão despertar a paixão no homem, e vice versa. Isto é um erro. Se os gêneros buscam interesses distintos, observarão aspectos distintos.

Porém, o grande fato é que se toda esta atração é um proveniente instintivo, não será um caso inédito a supressão de certas inclinações instintivas indesejadas. O ser humano vem fazendo isso ao longo de muitos anos para poder viver socialmente. É só pesquisar sobre o conceito de neurose na psicanálise.

Muitos poderão achar esta postagem racionalista por demais, bem como fria e sem o brilho emocional que a sociedade ensina aos indivíduos, por meio do amor platônico, representado em filmes e músicas, fazendo-nos acreditar que tudo é um verdadeiro conto de fadas. Mas poderá ser um conto de fadas. Quando duas pessoas, por fim, superar os interesses instintivos e passar a enxergar no consorte a grande finalidade de sua vida.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

CORRESPONDÊNCIAS




6 de Janeiro.

Caro Peter.

Lamento severamente não ter lhe desejado um porvir de ano bem venturoso em momento mais elegante, que teria sido nos dias anteriores, quando ainda as comemorações de fim de ano estavam na atmosfera, com todas suas verdades e mentiras sobre a felicidade e esperança de dias melhores. Já se fazem 5 meses e dezesseis dias desde que começamos a trocar correspondências, e honestamente, gostaria de me assegurar que as mesmas sejam regulares. Em uma atitude de autodisciplina, decidi, nesta segunda feira, escrever-lhe este singelo e-mail, e aproveitar o ensejo para lhe agradecer as recomendações sobre repensar a origem de minhas emoções, sobretudo as mágoas, e aos livros sugeridos. Tenho me alimentado melhor, mas ainda sinto-me receoso de sair de casa. Sinto que as coisas podem melhorar e sou eternamente grato por sua ajuda.

Atenciosamente; Matthew.


12 de Janeiro.

Ao meu nobre e verdadeiro amigo. Peter.

Desejo-te toda a felicidade do mundo. Pois, certamente há em ti, grande e sincero dom. Escolho o da caridade, o preferido de São Paulo, para adjetivar sobre ti, caro Peter. Teus conselhos são verdadeiros e muito proveitosos ao aflito de alma. Neste sábado último, houve grande progresso. Certos familiares distantes apareceram em visita inesperada, e não demonstrei nenhuma instabilidade, ao contrário, dei-me a palestrar sobre os assuntos que domino e amo, como bem sabe. E encontrei em meus parentes bons e atenciosos ouvintes. Conscientizo-me de que tudo quanto tens me aconselhado e sugerido é bastante proveitoso. E mesmo sendo uma pessoa tão importante, preocupa-te com este miserável, porém devoto amigo. Agora compreendo o que queria dizer São Paulo aos Coríntios, em sua primeira epístola. Acima de qualquer dom, precisamos ser caridosos, ter o desejo de doar. É isso que tens me ensinado a exercitar, e o fiz nesta semana. O resultado; um novo Matthew. Bom companheiro, pronto para se socializar, conversar e de agradável companhia. Obrigado, Peter. Sem Caridade, nada somos.

Att, Matthew.


18 de Janeiro.

Caro Peter.

Estou novamente sendo assaltado por pensamentos ruins. Quero pensar que tudo é apenas fruto de uma leve recaída, mas estou com medo. Não quero regredir, depois de tanto progresso. Hoje falei sobre você com a minha mãe. Ela veio me perguntar se eu gostaria de ver alguém no meu aniversário que já se aproxima. Disse sobre você, meu amigo Peter Ártonus. E sobre a inviabilidade de nos vermos. Quando eu era criança, imaginava que quando eu estivesse com dezenove anos, seria a pessoa mais bacana do mundo. Não lamento por isso, lamento por não ser mais criança. Toda a lembrança da minha infância é ofuscada pelo o que aconteceu. Estou muito triste, amigo. Lamento não atender à sua expectativa sobre mim.

Um forte abraço, Matthew.


27 de Janeiro.

Obrigado por novamente cercar-me com plausíveis conselhos, caro Peter. Mas, temo ser um estorvo à ti. Talvez devessem cessar as nossas correspondências. Obrigado por tudo.


11 de Fevereiro.

Caro Peter.

Desapontei a ti, grande amigo. Quão fraco sou? Não há como saber. Pois, tal qual é a profundidade de um poço em contínuo escavar, assim é a minha covardia e miséria. Tentei lançar-me ao profundo sono, farto de toda esta palhaçada da qual apelidamos “vida”. Mesmo convencido de tuas sábias palavras, que me exortou e me fez entender que, não quero que finde a minha vida, mas sim as minhas aflições. Porém, ambos fundem-se num turbilhão de desapontamentos. Pensei em escrever-te na noite passada, no entanto, não estava eu com as minhas funções motoras em perfeito estado, devido as diversos sedativos do hospital. Meu aniversário se aproxima, Peter. Mas tudo o que sinto é a incessante sensação de que não sou bem vindo aqui, neste mundo. Não quero alardeá-lo com meus fracassos. Sei que teu dom caridoso é honesto, mas nem mesmo tu, sendo tão versátil pessoa, podes resolver todas as coisas. Eu sou um caso perdido. Não te preocupa amigo. Não irei tirar minha vida por enquanto. Já estou dependente de toda esta maldita melancolia.

Matthew.


21 de Fevereiro.

Peter.

O pesar da minha dor persevera, meu amigo. E após perder tanto nesta vida, sinto, que por fim, perderei o equilíbrio de minhas faculdades mentais. Coisas incomuns passaram a acontecer nos últimos dois dias. Minha mãe disse ter escutado risos femininos em meu quarto e que teve a leve impressão de ter visto alguém com um cabelo negro como a noite adentrar ao meu quarto. Sabes que não mantenho contato com quase ninguém, exceto com alguns familiares e amigos que raramente me visitam. Ontem, pela tarde, ouvi o telefone tocar, mas não quis atender. Era meu irmão, que posteriormente disse à minha mãe que uma pessoa com voz feminina atendeu, disse que eu estava dormindo e que depois daria o recado. Quando meu irmão perguntou quem era, a suposta mulher simplesmente desligou o telefone. Neste momento eu estava febril, ainda agora, sinto no paladar o gosto da bílis, resultado da minha má alimentação. Tenho estado doente quase todos os dias. Não pensei em escrever-te hoje, mas, agora à poucos minutos estava eu tendo um sonho de não pouca curiosidade. Estava em uma cidade deserta em meio à um chuvisco de miúdas gotas d’águas e cinzento céu. Tão melancólico quanto eu. Eis que o chão abriu-se para me engolir. Tive medo, mas entreguei-me. Quando o fiz, vi todas as pessoas que amo sendo devoradas por sombras. Tu estavas lá, Peter. Não sei como é o teu rosto, amigo. Mas a tua presença naquela carnificina era tão real quanto ao desespero que tive de te perder em meio aos meus. Gritei e me desesperei para salvar-te e aos outros. Quando então alguém me despertou. A princípio pensei ser a minha mãe, mas, sua mão em minha testa, alisando o meu rosto era frio como a morte. Quando finalmente despertei tomei um sobressalto. Não era a minha mãe e sim uma mulher, com longos cabelos negro e um rosto indefinido. Desapareceu de repente. Pondo em dúvida a minha lucidez. Sei que acreditas em mim, caro amigo. Não sobrou-me nada nesta vida para que encontrasse motivo para troças ou chocarrices.

Seu amigo, Matthew.

22 de Fevereiro.

Caro amigo Peter.

O que irei narrar a partir de agora, deixou-me tão estupefato quando em ocorrência, quanto agora que lho escrevo.
Noite passada, ao tentar dormir, senti um frio repentino abastecer o meu quarto. O aparelho de ar condicionado desligado e nenhuma passagem de ar disponível fizeram-me entender que algo de anômalo estava acontecendo. Aí então eu a vi, encolhida e imóvel, no canto do quarto. Com seus longos cabelos negros ocultando seu rosto. Não vacilava em sua imobilidade. Tal qual uma estátua. Até que comecei a ouvir certos gemidos. Neste momento o medo já havia me transpassado e em seguida identifiquei com mui dificuldade a seguinte palavra; “frio”. Reuni coragem e perguntei:

- Quem é você?

Não houve resposta, mas houve movimento. Lentamente, o espectro encolhido em meu quarto levantou-se e revelou um rosto pálido e sem vida de uma jovem. Tão triste quanto a minha vida, seus olhos estavam lacrimejantes. Parecia ela o final de um filme triste, como a completa sensação de tristeza. Ficou imóvel, fitando-me, deixando-me nu ao seu triste olhar. Parecia enxergar a forma do meu medo.

- Todos mentem quando dizem que o fogo governa o inferno. Só há frio e escuridão na morte. - Disse o espectro feminino fitando-me, sem pestanejar, nem mesmo respirar.

- Não entendo coisas da morte, pois não sou morto. Entendo coisas da vida. Mas desejo a morte. - Tentei dialogar com a entidade que se revelara a mim.

- Por que mentes a mim, visto que já tenho provado tantas mentiras. Ocultaram-me o frio que existe na pós-vida, e agora, mentes a mim. Dizendo-me que queres a morte, quando são evidentes os medos que embotam o teu olhar.

- Quero a morte, não por mera opção. Sou rejeitado pela vida, esta me insiste em enxotar, tal qual se faz à um cão indesejado. – Objetei.

- A vida rejeita a todos. Uns cedo, outros mais tarde. Mas, aqueles que rejeitam a vida não são dados ao medo. Só se pode sentir medo quando há o amor, daí também provém a tristeza. Porém, triste ou não, se há amor há também o desejo de vida. – Disse o espectro de forma monótona, porém determinante, como se já houvesse experimentado mil vidas.

- Toma-me por mentiroso ou por covarde? – Perguntei, com mais confusão do que valentia.

- Ter medo não significa ser covarde. Pelo contrário, aponta para a coragem. Pois somente com a presença do medo a coragem ganha sentido. És mentiroso, mas não o faz por maldade, e sim por confusão. Não sabes explicar as origens de teus anseios, e lhes dá sentidos fabulosos e inverídicos.

Ela aproximou-se de mim como se não caminhasse e ficou cara a cara comigo, e disse:

- Eu estou aqui agora, para resolver nossos problemas. Irei mostrar-te um caminho excelente. – Em seguida beijou-me tão profundamente que pensei ter perdido os sentidos. Tive uma sensação de vazio extremo, mas, senti-me profundamente amado quando ela disse:

- Chamo-me Alissa. – E desapareceu.

Isto é o que tenho experimentado caro amigo. Após isso, o espectro deixou-me e o sono me fugiu. Sei claramente que sou desventuroso, agora também sou assombrado.

Estas são palavras fiéis e verdadeiras.
Grato. Matthew.


4 de Março.

Caro Peter.

Entendo claramente sua ânsia por soluções plausíveis, e honestamente, eu mesmo teria duvidado se não tivesse vivido o que tenho experimentado nestes tristes dias. Mas garanto-lhe, caro amigo. Não se trata de alucinações, e sim, cessei de tomar os remédios antidepressivos, pois eles deixam-me os artelhos inchados.
Não somente a experiência anterior é verídica, como também, as que se seguiram após nosso contato.

Certa noite, após o ultimo ocorrido, estava eu ansioso e ao mesmo tempo receoso ao possível contato com Alissa. No entanto, passaram-se 4 dias sem que nenhum vestígio do espectro aparecesse. Por fim, fui atacado novamente por uma forte depressão. Parei de me alimentar de forma regular e no quinto dia estava fraco e moribundo.
Deitado na cama senti Alissa materializando-se ao meu lado, deitada comigo, encarando-me com chorosos olhos. Linda, tal qual o além deve ser. Disse-lhe:

- Não te encontrava em lugar nenhum.

- Não estava encontrando espaço em ti. – Disse-me Alissa, acariciando-me com seus dedos de gelo.

- Descobri que toda morada dentro de mim, é para ti. Tenho sido desgostoso da vida. Mas, tua sabedoria e teu carinho, tem me dado gosto por viver. – Disse eu, descobrindo-me apaixonado.

- Coisa difícil é este empreendimento. Pode por ventura acender-se uma candeia submersa? Ou habitar as trevas com a luz? Pode por ventura fazer manutenção da vida quando se deseja a morte? – Alissa fez estas perguntas rompendo-se em lágrimas em um rosto pálido e inexpressível.

- Não encontro respostas para estas perguntas, pois me parecem capciosas e as tenho por um engodo de lógica, aparentando fácil resposta. Sei que me ajudas. Teu beijo mostrou-me a vida. Desde aquele dia fui outro homem. Feliz, como nunca antes, forte de maneira inédita. Tu mesma me ensinaste sobre os conceitos de valentia e felicidade. Obrigado.

Neste momento Alissa mostrou pela primeira vez uma expressão em seu pálido rosto, belo e póstumo. A expressão era de pesar e desesperança. E disse:

- Meu pobre Matt. Tu ainda não compreendeste o motivo de minha dor. Mas deixa por hora, apenas ama-me. Pois eu também te amo. E fica tu comigo.

Após isto, todos os dias, pela noite, Alissa vem visitar-me. E lança-se em meus braços em verdadeiro amor. Não sinto mais vontade alguma de sair de meu quarto. Mesmo durante o dia, quando minha mãe roga-me para que eu saia, faça a barba e retome meus estudos. Eu nego. Só Alissa me importa. E ela, da mesma forma tem mostrado-se menos melancólica. Até sorri. Acho que encontrei o fim dos meus lamentos.

Muito obrigado pela atenção, meu amigo Peter.

Att, Matthew.


15 de Março.

Caro amigo Peter.

Sei que o espantei, severamente, sob diversos aspectos no ultimo e-mail que lhe enviei. Estou novamente internado, já se fazem 4 dias, e somente hoje minha mãe trouxe o notebook para que possamos nos comunicar.

Continuo vendo Alissa regularmente, sempre que estou com ela, sou tomado por tão forte emoção que em seguida, sinto que uma parte da minha vida foi embora. Tal é meu amor por minha amada. Mas não temo, ela sempre vem. Mesmo aqui no hospital. Ela foi flagrada pelas câmeras de vigilância, os funcionários do hospital estão com medo, pensam que ela os fará mal. Alissa me disse que eles perdem tempo em pensar que fará mal à eles, e que o único objetivo dela, sou eu. Tenho vivido momentos muito bons com ela, nobre amigo. A fraqueza de minha saúde importuna-me até mesmo agora, para digitar-te estas palavras com o uso do notebook. Mas não quando estou com Alissa. Ela me diz que o meu amor alimenta-a e a tem tornado forte. Isso me deixa feliz, pois, assim ela poderá me proteger. Gostaria de falar mais, amigo. Mas estou terrivelmente debilitado.

Seu amigo, Matthew.

18 de Março.

Amigo Peter.

Existe a grande probabilidade de que eu vá me unir à Alissa. E quero que saiba que vi grande sentido e entendi claramente o teu raciocínio. Sei que Alissa sobrevive de mim e está drenando a minha vida. Mas, contesto se isso de fato é algo ruim. Pois agrada-me a doce companhia de minha amada.
Mas confesso estar bem pensativo a respeito de teus conselhos, e, só por isso, Alissa já se mostrou melancólica.

Entendo claramente o que está acontecendo, caro amigo. Sei que a escolha de viver ou morrer está em minhas mãos. Alissa concordou com estas tuas palavras, disse-me que tenho até o dia 20, para escolher o que quero. Após isto, deixarei esta existência.

Matthew.

19 de Março.

Agradeço por tuas sábias palavras, Peter. Elas são de grande valia para mim. Entretanto, na multidão de tua sabedoria, meditarei em uma parte especial de tuas palavras. Afinal, não somente Alissa, mas também você, tem se importado grandemente comigo. Então meditarei nas tuas sábias palavras, amigo.

“Sobreviver às trevas, à tormenta, ao inferno... Mesmo que a luz tenha se ausentado dos olhos, mesmo que toda a tripulação tenha morrido, mesmo que todas as almas tenham perecido... Sobreviver a isto significa transcender.”

30 de Março.

Meu nobre amigo Peter.

Quero te agradecer pelo teu comprometimento com a nossa amizade. Perdoe-me a demora para responder-te e fico muito feliz por tua notável preocupação para comigo. És um amigo de verdade. Encontro-me razoavelmente sem tempo, reiniciei meu curso universitário. Tenho bastante coisa para relatar a ti, caro amigo. O farei em breve.

Com muita estima. Matthew.

3 de Abril.

Caro amigo Peter.

Era para eu ter chegado em minha casa algumas horas atrás, porém, estava a conversar com bons amigos. Você ainda é meu grande amigo, caro Peter, se hoje tenho outros, devo a ti sinceros agradecimentos.
Quero relatar-te o fim que se deu na minha sinistra história com a entidade alcunhada por Alissa.

Entendi que devia eu decidir-me pela vida ou pela morte, esta ultima apresentou-se tentadora, na forma de uma jovem acolhedora, compreensível e sedutora. Esta drenava-me a vida com seu encanto, fazendo-me adoecer e vegetar. Mas pensando em tuas sábias palavras, tive de falar sério assunto com Alissa.
Ela disse-me que o fato de eu ter compreendido mostrava-se uma evolução, e revelou saber toda a desventura que lançou-me naquele estado de depressão. Descreveu com singular precisão o dia do acidente, quando eu dirigia naquela chuva e, meu melhor amigo, e minha namorada perderam a vida por minha imprudência, como bem já relatei a ti.
Alissa representava o meu medo, minha raiva, e meu pesar. Apeguei-me a tudo isso e tornou-se o meu vício. Tudo isto drenava-me para o inferno. Gelado, como a própria sedutora Alissa descrevera.
Tive que abandoná-la, como bem me aconselhaste. Larguei a morte e inclinei-me à vida. Hoje, tomei coragem e visitei os parentes das vítimas. Chorei deveras, nobre Peter. Encontrei consolo, achei que não era digno, vi, de relance o reflexo de Alissa no espelho e lembrei que a decisão de seguir em frente é apenas minha.
Antes de ir embora, Alissa me disse que há de fato outros planos de existência e disse que eu terei uma louvável pós vida, se eu migrar nesta direção de evolução, superando todos estes demônios do passado e procurando sempre fazer o bem. Despediu-se para nunca mais voltar.

Matthew.

12 de Abril.

Deverei desembarcar no aeroporto por volta das 15 horas, nobre amigo. Fiquei feliz pelo convite e iniciativa para que nos conhecêssemos. Estou tomando a liberdade de levar Eliza comigo. Estamos namorando, penso que ficará feliz em conhecê-la. O tempo está ótimo, poderemos ir à um bom restaurante pela noite. Aproveitarei e falarei sobre a ONG da qual faço parte junto de Eliza. Um forte abraço e até breve.


Matthew.